Fiz uma abdominoplastia no dia 06 de janeiro. A cicatriz é gigante, de ponta a ponta. Logo eu que não tinha cirurgia alguma, mesmo após três filhos.
Eu que sou a primeira a falar para aceitar o próprio corpo, aceitar o envelhecimento, as transformações que passamos ao longo da vida. Na verdade, mais que aceitar: se amar. Porque aceitar é uma condição em que não necessariamente você está feliz com ela.
Mas eu também sou aquela que cresceu no mundo em que a beleza tem um peso que não deveria ter, em que os padrões de beleza estão deturpados, em que a indústria da estética já venceu há tempos.
Eu sei o quanto o capitalismo e o patriarcado tem culpa nisso. Não é mimimi e não me venha com “ah Thais, de novo culpa do patriarcado?”
Sim! Infelizmente ele é forte, é raiz, é estrutural. Homens não sofrem tanto quanto nós quando diz respeito ao corpo. O homem gordo é muito mais aceito que a mulher gorda. O homem grisalho é charmoso, a mulher grisalha é mal cuidada, o homem gordo com uma mulher magra é “normal”, já o contrário pensam: “Certeza que ele trai ela. Como pode?”
Sim, gordofobia tem de monte por aí. Mas não… não sou uma pessoa gorda, não sofro com isso e nem sei o quanto de dor e trauma podemos carregar sendo gordo nessa sociedade que também não aceita corpos assim. Não é meu lugar de fala.
Mas cresci ouvindo que precisamos emagrecer, encolher a barriga, malhar para ficar bonita, se cuidar na gestação para não engordar, malhar logo depois do bebê nascer para voltar a caber na calça jeans.
Tive três gestações. Amamentei três filhos. Tive diástase. Fiz ginástica, fiz LPF para diminuir a diástase, mas continuei com barriga de grávida e com muita flacidez. Todo mês me perguntavam se eu estava grávida 🙄
Sou dessas que ama praia e com certeza ainda voltarei a morar em uma rs. Depois de uma temporada na praia, me olhando todos os dias de biquini resolvi: vou operar.
Marquei cirurgia, fui com medo, com raiva da minha decisão, decepcionada comigo mesma por ter perdido essa “briga” com o patriarcado, com a indústria da beleza. Me senti exatamente assim: derrotada.
“Mas você está fazendo por você ou por alguém?”, me perguntavam.
Vamos lá: Eu que decidi, eu que me incomodava, meu marido não quis nem dar opinião de nada, dizendo que o meu corpo era meu e eu que decidia.
Aliás, sempre me elogiava, nunca disse NADA em relação às mudanças do meu corpo. Sempre ouvi que eu estava cada dia mais linda.
Mas mesmo com tudo isso, quem me fez tomar a decisão de operar, claro que foram os outros. Foi o que eu ouvi durante toda a minha vida, foi o que eu enxerguei como um corpo aceito socialmente, foi o que eu vi na tv, revistas, redes sociais. Foram as zueiras que ouvia sobre os corpos fora de padrão, os comentários que ouvia depois de ter tido filho, as roupas que já não se encaixavam tão bem no meu corpo.
Foi esse conjunto que me fez acreditar que meu corpo não estava legal, que eu não estava bonita. E que começou a me incomodar diariamente. Me olhava no espelho e já não gostava mais do que eu via.
Estava longe de ser algo que me tirava o sono, que me fizesse entrar em dietas loucas… nunca aconteceu isso. Mas era algo que me incomodava sim.
Chorei uma tarde quando percebi que queria operar, mas lá dentro de mim ainda não queria. O que eu queria de verdade era amar minha barriga daquele jeitinho. Mas não conseguia.
Então, dia 6 de janeiro desse ano fiz abdominoplastia para retirar o excesso de pele e fechar minha diástase. Também coloquei prótese, o mínimo possível, apenas para levantar os seios por conta da amamentação.
Hoje se ouço um: “nossa, nem parece que tem três filhos! Que magrinha!” Eu logo respondo: “é cirurgia!”, com um sorriso.
Não quero normalizar cirurgias plásticas. Não quero encorajar ninguém a fazer. Não quero que quem não fez, sinta-se pior por ter aquela barriga e seios caídos.
Isso é normal, é natural. Acontece com a maioria das mulheres. O corpo muda! A gente envelhece! E acho linda toda essa transformação. Mais lindo ainda quando vejo mulheres felizes com seus corpos, aceitando e amando cada pedacinho dele.
Eu precisei desse empurrão para voltar a ficar satisfeita com meu corpo. Mas espero que cada dia mais, menos mulheres precisem.