Sabor de massa crua do bolo, amarelinha desenhada no chão da rua, o som da corda batendo no chão. Cantigas de roda, pega-pega, vento soprando no rosto durante o balanço do parquinho, frio na barriga ao subir em uma árvore. Pés fugindo da quentura do asfalto ou relaxados, sentindo a maciez da grama. Música alta tocando na sala, pipoca no meio da tarde, cadeiras com lençóis presos por pregadores… ai que delícia de cabana!

Quantas memórias trazem sua infância? Quantos gostos e sensações ainda moram aí dentro de você?

Essa infância gostosa, de “criança de antigamente” como chamamos, é a que nossos filhos merecem. Longe de telas o máximo que puderem ficar, pegando tocos de madeira, brincando com panelas e poções mágicas.

Que brinquem com bonecas de pano, no lugar das que falam e têm cabelo de humano.
Que deixem a roupa encardida de tanto brincar, ao invés de manterem os pés limpos e roupas impecáveis por não saírem do sofá.
Que tenham joelhos ralados e chorem pelos machucados, do que jogarem em um iPad calados.

Criança é para brincar, correr, pular, explorar, se movimentar. Criança precisa de movimento, de criatividade para inventar suas brincadeiras e de tédio por não ter o que fazer. Criança precisa de contato com a natureza, sentir o sol na pele, perceberem as estações do ano passarem.

Na infância, menos é mais. Menos objetos, menos consumo, menos brinquedos prontos. Mais brincadeiras.

A infância somente será livre se não prendermos as crianças em casa, em telas, em “necessidades” desnecessárias. Se as respeitarmos, as olharmos como indivíduos únicos, como todos somos. Se respeitarmos cada ritmo, cada desenvolvimento, cada tempo.

Precisamos dar espaço, apoio e segurança para serem quem querem ser. Precisamos enxergar, observar e escutar, além de amar. Criar com presença, com respeito e sem violência.

Só assim possibilitaremos uma infância saudável e feliz.


Foto: Lela Beltrão